PIB reduz ritmo de crescimento em função dos juros altos
Economista Luis Carlos Burbano Zambrano afirma que esta desaceleração deverá aumentar em 2026
Por | Publicado em: 29/08/2025 15:30:50 | Fonte: Revista Oeste

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro teve uma desaceleração de 1,4% do crescimento no primeiro trimestre de 2025, para 0,3% no segundo trimestre, segundo dados do IBC-Br do Banco Central (BC), divulgados em agosto. O resultado mostra que a economia perdeu fôlego muito em função de efeitos da política monetária restritiva.
“Esses resultados refletem o impacto esperado da política monetária contracionista, que mantém a economia em compasso de desaceleração, ainda que a projeção de crescimento para o ano siga em 2,4%”, afirma a Oeste o economista colombiano Luis Carlos Burbano Zambrano, formado pela Universidad del Valle (Colômbia) e especialista em Ciências e Técnicas de Governo pela Fundação Altadir (Venezuela e Chile), com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Especialistas já preveem que o desempenho do PIB afete setores que sustentam o crescimento, como indústria e serviços, que já estão perdendo ritmo, o que exige atenção do governo e do setor privado.
“Para 2026, contudo, o consenso é de perda de ritmo, com projeções em torno de 1,8% a 1,9%”, diz Burbano, citando, entre outros, estatísticas do Ipea, que espera o já citado crescimento de 2,4% em 2025.
No acumulado de janeiro a julho, o saldo do mercado de trabalho foi de 1.347.807 vagas, avanço de 2,86% ante o mesmo período de 2024. O estoque total de vínculos formais atingiu 48,5 milhões, recorde histórico para julho.
Este mercado, porém, acompanha a queda da atividade econômica, prossegue Burbano. Em julho de 2025, foram registradas 129.775 vagas formais, resultado de 2.251.440 admissões e 2.121.665 desligamentos. Foi o pior desempenho para o mês desde 2020, representando queda de 32,2% em relação a julho de 2024.
“A manutenção da Selic em patamar elevado tende a manter o mercado de trabalho menos dinâmico”, afirma o especialista. “É previsível que o saldo de vagas formais continue a desacelerando em consistência com o menor ritmo de crescimento da economia o que também pode ser sentido na ocupação total que inclui a os empregos informais.”
A inadimplência das famílias também cresceu. Em julho, o crédito às pessoas físicas registrou 6,5% de inadimplência, alta de 0,2 ponto percentual em relação a junho e de 1,0 ponto percentual em doze meses, segundo o BC.
“O aumento é mais visível nas modalidades de crédito livre, como cartão de crédito, cheque especial e empréstimos pessoais, que apresentam custos mais elevados e maior vulnerabilidade em períodos de juros altos”, explica Burbano.
Com a Selic mantida em 15% e juros médios das operações bancárias acima de 30% ao ano, o crédito ficou mais caro e restrito, pressionando a renda disponível das famílias, acrescenta o economista.
Em junho de 2025, o endividamento das famílias alcançou 48,7% da renda, enquanto o comprometimento da renda com dívidas chegou a 27,6%, um dos maiores níveis da série histórica.
No campo da inflação, há sinais de alívio. O IPCA-15, prévia da inflação oficial, apresentou deflação de 0,14% em agosto, a primeira retração em mais de dois anos.
“Esse movimento reforça a leitura de que a política monetária começa a surtir efeito, ainda que a convergência das expectativas inflacionárias siga lenta”, afirma Burbano.
PIB e o tarifaço
Entre os riscos adicionais para o desaquecimento, completa Burbano, estão o impacto do recente ‘tarifaço’ dos Estados Unidos, cujos efeitos ainda são pontuais e setoriais, e o aumento da inadimplência das famílias.
Entre os riscos adicionais para o desaquecimento, completa Burbano, estão o impacto do recente ‘tarifaço’ dos Estados Unidos, cujos efeitos ainda são pontuais e setoriais, e o aumento da inadimplência das famílias.
“O quadro que se desenha para a economia brasileira combina desaceleração da atividade, alívio inflacionário ainda incipiente, política monetária restritiva mantida por mais tempo e riscos crescentes no cenário externo e doméstico.”