Rússia substitui Grupo Wagner pelo Africa Corps
Novo braço paramilitar atua sob controle de Moscou e tenta limpar imagem manchada pelos abusos da antiga organização
Por | Publicado em: 31/08/2025 12:03:55 | Fonte: Revista Oeste

O Kremlin decidiu trocar o Grupo Wagner, envolvido em rebeliões, mortes e acusações de abusos, por uma nova força paramilitar: o Africa Corps. O movimento marca a tentativa da Rússia de manter influência no continente africano e, ao mesmo tempo, apagar a marca que se tornou sinônimo de violência e ilegalidade.
Por anos, o Wagner foi o principal instrumento de Moscou no Sahel, região que vai do Senegal ao Sudão e convive com golpes de Estado, insurgências e ataques terroristas. A CNN Brasil divulgou as informações neste sábado, 31.
O ditador Vladimir Putin exaltou o grupo em 2023, chamando-o de “corajoso e heroico”, mesmo depois da tentativa frustrada de rebelião contra Moscou liderada por Yevgeny Prigozhin. A morte do chefe mercenário em um acidente de avião, dois meses depois, acelerou a reformulação da estratégia russa na África.
Diferente do Wagner, o Africa Corps está diretamente vinculado ao Ministério da Defesa russo. Segundo comunicados oficiais, agentes de elite comandam a tropa, formada por soldados do exército e ex-integrantes do próprio Wagner. Em janeiro de 2024, a nova força já atuava em operações conjuntas com militares do Mali contra rebeldes locais.
O Wagner anunciou sua saída desse país em junho, depois de três anos e meio de combate. Em paralelo, autoridades da República Centro-Africana (RCA) revelaram que Moscou pretende substituir os mercenários pelo Africa Corps, em troca de pagamento direto pelos serviços. Desde 2018, o Wagner ajudava a proteger o ditador, recuperar território e conter rebeldes na RCA.
Disputa por recursos e influência
Investigações anteriores revelaram que empresas ligadas a Prigozhin obtiveram concessões de mineração de ouro e diamantes na RCA. Em um dos países mais pobres do mundo, com quase 70% da população em miséria extrema, o financiamento ao grupo sempre foi tratado de forma opaca. Agora, o Kremlin tenta reorganizar os contratos sob o novo rótulo.
Além do Mali e da RCA, o Africa Corps já chegou ao Níger e a Burkina Faso. Há relatos de presença também na Guiné Equatorial, onde instrutores militares russos atuam sob o governo que permanece no poder há quase meio século.
As Nações Unidas (ONU) também expressaram preocupação. Relatores pediram investigação independente sobre violações cometidas por mercenários russos no Mali e na RCA. Documentos indicam que a falta de clareza jurídica do Wagner criou um “clima de terror e impunidade” para as vítimas.
Resultados no campo de batalha dividem opiniões sobre o Grupo Wagner
No terreno, militares africanos divergem sobre a eficácia dos mercenários. Um coronel senegalês aposentado que atuou no Mali afirmou que os jihadistas se fortaleceram depois da chegada dos russos, com aumento de baixas civis. Já outros analistas reconhecem que os combatentes ajudaram tropas locais a reconquistar posições estratégicas.
Enquanto isso, a violência no Sahel cresce em escala e complexidade. Relatórios da ONU ressaltam uso de drones, comunicações alternativas pela internet e conexão crescente entre grupos jihadistas e redes criminosas transnacionais.
Ahunna Eziakonwa, secretária-geral assistente da ONU, reforça que a crise está além da capacidade dos governos locais. Para ela, qualquer ajuda internacional precisa ser “bem-intencionada” e não pode resultar em novas violações de direitos humanos.